Entrevista do nosso Diretor Comercial Bruno Carvalho para Caderno Mobilidade do Estadão.
Os ônibus urbanos da capital paulista vêm recebendo uma nova tecnologia embarcada. Chamada Unidade Central de Processamento (UCP), ela substituirá o atual Localizador Automático de Veículos (AVL). A nova central permitirá não só o recebimento, mas também o envio de dados aos ônibus, como informa a Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana (SPTrans).
A expectativa é que as UCPs passem a interagir até o fim de 2023 com um novo Sistema de Monitoramento e Gestão Operacional do Transporte Coletivo Público da cidade de São Paulo (SMGO), mais moderno que o atual Sistema Integrado de Monitoramento (SIM).
Vale dizer que os ônibus em circulação já são rastreáveis a partir dos AVLs, obrigatórios na frota paulistana. Segundo a SPTrans, hoje é possível saber a localização do veículo, informações operacionais como dados sobre a linha, o sentido em que o ônibus trafega, passagem por pontos de interesse e velocidade.
A nova tecnologia que será implantada vai ajudar o motorista na condução do veículo e no cumprimento da programação operacional, porque as futuras unidades de processamento concentram funções como telemetria, sinal de internet por Wi-Fi e uma versão mais atual e precisa de GPS.
“Com a mudança, haverá uma comunicação também da central de monitoramento para os ônibus. Com o equipamento atual, sabe-se basicamente o horário de partida, chegada e onde o veículo está”, afirma Francisco Christovam, presidente-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU).
“Com a coleta de telemetria, a direção se torna mais segura”, recorda o executivo, porque é possível acompanhar o comportamento do veículo em curvas, frenagens. Tanto a SPTrans como a NTU preveem aumento da segurança dos passageiros, redução de acidentes de trânsito. Também se espera a redução de despesas com manutenção.
“Fora do País já são utilizadas soluções bem sofisticadas. É possível, por exemplo, enviar a ordem para que um ônibus cheio dê passagem para aquele que vem vazio atrás, a fim de conseguir pegar mais passageiros nos pontos adiante.”
Essencial para os aplicativos
A presença de um dispositivo de rastreamento é condição quase essencial para os aplicativos de mobilidade como o Moovit, em que o usuário pode conhecer o trajeto, custo da viagem e visualizar a aproximação do veículo. “A partir do momento em que o passageiro sabe onde está e o horário de chegada do ônibus, ele se programa para ficar menos tempo exposto na rua”, recorda Pedro Palhares, diretor de Parcerias para a América Latina do Moovit. Ele lamenta o fato de algumas capitais como Porto Alegre (RS), Vitória (ES), Manaus (AM) e parte de Recife (PE) não abrirem as informações sobre a circulação de suas frotas para os aplicativos.
“Embora as frotas tenham GPS, os dados não são abertos à população.” Neste caso, o aplicativo de mobilidade urbana tem sua atuação restrita, ainda que consiga orientar o usuário a chegar ao destino. Palhares ressalta que até mesmo em cidades menores, a previsibilidade também é importante para o passageiro.
Rastreamento e transporte rodoviário
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) obriga a utilização em ônibus de transporte interestadual e internacional o equipamento Monitriip, que faz a verificação de dados de embarque e desembarque.
“Ele acompanha o movimento de passageiros, não é um rastreador e não fornece a geolocalização em tempo real. No entanto, o rastreador é muito difundido em ônibus rodoviários, cerca de 90% da frota nacional utiliza esse equipamento”, estima Letícia Pineschi, conselheira da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati).
“Há mais de dez anos nossas associadas utilizam rastreador porque é de interesse das empresas. E há equipamentos de diversos níveis. Alguns trazem sistemas de telemetria capazes de checar consumo e o comportamento do motorista. Isso preserva a frota, premia o profissional, traz ganho econômico para o frotista e mais segurança para os passageiros. E é imprescindível para trajetos longos, com diferentes pontos de embarque e desembarque”, afirma a conselheira da Abrati.
Videomonitoramento e inteligência artificial
A tecnologia disponível para a gestão de uma frota pode ir além da localização, funcionamento do ônibus e comportamento do motorista. “É possível implantar algo como uma caixa-preta nos veículos que inclua gestão de frota, com rastreabilidade, comunicação em ambas as direções e imagens em tempo real”, afirma Bruno Carvalho, diretor comercial da Avantia.
“Pelo videomonitoramento e a utilização de inteligência artificial é possível gerar alertas a partir de sinais de fadiga do motorista, mas também no caso de saque de uma arma por um passageiro. E a análise dos ruídos permite identificar o calibre de um disparo ou a queda de um passageiro dentro do ônibus”, afirma Carvalho.
Ele informa que a combinação da tecnologia com a utilização de câmeras externas possibilita até mesmo gerar alertas em caso de movimentação suspeita de algum veículo que permaneça muito tempo próximo a um ônibus de turismo, evidenciando a iminência de um assalto.
Matéria publicado no Mobilidade Estadão